A Cidadela de Carcassone localiza-se no actual município de Carcassone, no departamento de Aude, região de Languedoc-Roussillon,
Em posição dominante na margem direita do rio Aude, a Sudeste da moderna cidade, constitui-se um conjunto arquitectónico medieval, inscrito na lista do património mundial da Unesco desde 1997.
A primitiva ocupação do sítio da cidadela de Carcassonne, no cruzamento do caminho entre Toulouse e Narbonne e do que corre ao longo do Aude, remonta a povos Celtas, Galo-romanos e Visigodos. As fundações das suas casas e muralhas retratam com clareza essas sucessivas ondas civilizadoras.
Durante a Idade Média foi defendida por um imponente conjunto de fortificações, ficando circundada por uma dupla linha de muralhas, que ainda hoje pode ser vista, e representa o ápice da engenharia militar do século XIII. O traçado irregular de suas ruas estreitas contrasta com a magnificência das muralhas e do castelo guarnecido por 59 torres e barbacãs, poternas e portas
Foi restaurada por Violet-le-Duc que lhe conferiu o actual aspecto.
Ao final do século XIX, o conjunto estava praticamente abandonado, quando foi redescoberto por turistas ingleses.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidadela foi usada como campo de prisioneiros.
Situada no coração do triângulo Toulouse-Montpellier-Barcelone, no cruzamento de duas grandes vias de circulação que remontam à Antiguidade: do Atlântico ao Mediterrâneo e do maciço Central aos Pirenéus onde nasce o l’Aude, Carcassonne espalha-se nas planícies do vale do Aude convidando o visitante a vários circuitos: desde o histórico ao gastronómico ou vitivinícola passando pelos circuitos bucólicos.
Os traços humanos mais antigos remontam ao séc VI a.C. foram descobertos no promontório onde se situa a cidadela. Na Primavera de 725 os Sarracenos tomaram a cidade donde foram expulsos em 759 por Pepino o Breve, rei dos Francos. Após a morte de Carlos Magno o desmembramento do seu Império dá origem à época feudal. É com a dinastia de Trencavel de 1082 a 1209 que a cidade atinge o seu esplendor.
Neste período fausto o catarismo (ver em baixo a história do Cátaros) desenvolve-se rapidamente. Raymond Roger Trencavel visconde de Carcassonne (1194-1209) tolera e protege a heresia nas suas terras. Sofrerá o embate da cruzada do Papa Inocêncio III e a 15 de Agosto de 1209 após 15 dias de cerco, tudo acaba. A cidade e as terras de Trencavel serão entregues ao chefe militar da Cruzada Simon de Monfort e mais tarde em 1224 cedidas ao rei de França.
História dos Cátaros
Eles afirmavam que Jesus não era filho de Deus e defendiam a igualdade entre mulheres e homens.
A religião nascera do cristianismo, mas era marcada por profundas diferenças em relação às doutrinas do Vaticano. Acusados de heresia e até chamados de adoradores do diabo, os cátaros provocaram uma implacável reacção do papado. O esforço para eliminá-los incluiu uma cruzada e foi um dos principais motivos para a criação do Tribunal do Santo Ofício – mais conhecido como Inquisição.
No século XIV, cerca de 200 anos após o catarismo ter surgido, os seus últimos representantes foram varridos do mapa. Para entender a intensidade da violência promovida pela Igreja Católica contra eles, é fundamental compreender como os cátaros foram capazes de conquistar os corações e as mentes medievais. E sua brutal eliminação é um dos exemplos mais bem acabados do incrível poder do papado sobre a Europa da Idade Média.
O primeiro grupo cátaro conhecido apareceu na década de 1120, na cidade de Limousin. Logo chegaram a povoados próximos, como Albi, Toulouse e Carcassonne, sempre no Languedoc. A região, separada do resto do território francês pelas montanhas dos Pirenéus, era governada pela dinastia dos Raimundos. Eram terras prósperas, fortes na agricultura e na indústria têxtil. À primeira vista, seria difícil prever que num local tão estável – e religioso – pudesse surgir uma crença que desafiasse a Igreja.
Para os cátaros, o livro sagrado era a Bíblia (em particular o Novo Testamento). A sua religião, entretanto, divergia muito do catolicismo. O princípio fundamental era o dualismo: segundo ele, o mundo seria composto por dois reinos opostos e coexistentes. O primeiro, comandado por Deus, seria invisível e luminoso, onde só existiria o bem. Já o segundo reino, material e visível, seria controlado pelo diabo. Noutras palavras: segundo o catarismo, o inferno ficava na Terra. E o objectivo da vida humana seria escapar do mal através da purificação dos espíritos, reencarnação após reencarnação. Se isso fosse feito, quando chegasse o Juízo Final, todos se salvariam e iriam para o reino de Deus.
Apesar de se considerarem cristãos, os cátaros não acreditavam que Jesus fosse filho de Deus. Ele era apenas considerado um profeta importante, que tinha divulgado alguns ideais que mereciam ser seguidos. Para completar a afronta ao catolicismo, os cátaros viam São João Baptista como nada menos que um instrumento a serviço do diabo. Afinal, por meio do baptismo, ele teria cumprido a profecia de que Jesus era o Messias – coisa na qual, como vimos, o catarismo não acreditava.
Em 1208, o legado papal (figura máxima da hierarquia da Igreja na região, representante directo do pontífice) Pedro de Castelnau foi morto por alguns habitantes de Toulouse. Logo correu a notícia de que os assassinos eram, supostamente, cátaros. Inocêncio III teve, então, a deixa de que precisava. A 10 de Março, organizou uma cruzada liderada por Arnoldo de Amaury e pelo bispo Folquet de Marselha. No campo de batalha, o comando coube a Simão de Montfort, à frente de um exército com 10 mil homens.
Além dos cátaros, o alvo da cruzada foram os principais nobres que davam protecção a eles: o conde Raimundo VI de Toulouse e o visconde Raimundo Rogério de Trencavel. O primeiro grande ataque, em Béziers, surpreendeu pela violência intensa e indiscriminada. Cátaros e católicos, Prefeitos e padres, não importa: todos foram massacrados pelos cruzados.
Estima-se que, em Béziers, nada menos que 20 mil pessoas tenham sido mortas – praticamente toda a população da cidade. Depois disso, os cruzados destroçaram Carcassonne, Bram, Minerve, Termes e Lavaur, ignorando quaisquer tentativas de rendição. Como recompensa pelo extermínio dos hereges, os cruzados ganharam o perdão pelos seus pecados – e puderam repartir entre si as riquezas e terras do Languedoc. A carnificina só parou em 1229, quando foi celebrado o tratado de paz de Meaux-Paris, entre Raimundo VII de Toulouse e o rei Luís IX da França.
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